Experiência de Thomson
Determinação experimental da relação do electrão
Objectivo do trabalho
Pretende-se com este trabalho determinar a relação entre a carga e a massa do electrão. Para esse fim, vamos estudar a deflexão de um feixe de raios catódicos sob o efeito de um campo eléctrico e de um campo magnético.
Conceitos fundamentais
Os raios catódicos foram descobertos em 1879 por William Crookes (1832--1919), mas foi Sir J. J. Thomson\footnote{Prémio Nobel da Física de 1906, em reconhecimento dos seus trabalhos teóricos e experimentais na condução da electricidade em gases.} (1856--1940) que, em 1897, relatou as experiências por si realizadas e que permitiram determinar o valor daquela relação. Além disso, estas experiências provaram que os raios catódicos são constituídos por partículas de carga negativa, desde então designadas por electrões. Neste trabalho iremos reproduzir aproximadamente a experiência de Thomson.
Os raios catódicos foram descobertos em 1879 por William Crookes (1832--1919), mas foi Sir J. J. Thomson\footnote{Prémio Nobel da Física de 1906, em reconhecimento dos seus trabalhos teóricos e experimentais na condução da electricidade em gases.} (1856--1940) que, em 1897, relatou as experiências por si realizadas e que permitiram determinar o valor daquela relação. Além disso, estas experiências provaram que os raios catódicos são constituídos por partículas de carga negativa, desde então designadas por electrões. Neste trabalho iremos reproduzir aproximadamente a experiência de Thomson.
Campo electrostático
Define-se como sendo o campo eléctrico criado por uma distribuição de cargas que não evolui no tempo. Considere-se por exemplo o par de cargas e imersas no vácuo, à distância e situadas respetivamente em e conforme ilustrado na figura à direita. A força eléctrica que sofre no ponto devido a em à distância é
em que é designada por constante dieléctrica ou permitividade eléctrica do vazio (F/m) e é o versor da distância no ponto (vector unitário dirigido de para , ver figura).
Dada uma carga e um ponto a uma distância , define-se o campo eléctrico em como a força eléctrica por unidade de carga exercida sobre uma carga de prova ou teste, suposta unitária e positiva, colocada em :
As unidades do campo eléctrico são o newton/coulomb (N/C) ou, mais habitualmente, o volt/metro (V/m).
As linhas de força eléctrica geradas por são radiais e dirigidas para o exterior, se ou para a origem, se . Se se colocasse em a carga , a força eléctrica a que esta carga ficaria submetida devido a seria ou mais simplesmente:
A expressão campo eléctrico também define a região do espaço onde se fazem sentir as acções eléctricas.
Potencial eléctrico
O campo eléctrico e a força eléctrica, que são entidades vectoriais, podem também ser calculadas a partir de uma função capaz de descrever o campo mas de natureza escalar, o potencial eléctrico . Para a situação referida acima, o potencial eléctrico criado no ponto à distância da carga é calculado por:
No caso de uma distribuição de cargas eléctricas à distância do ponto onde se pretende calcular o campo eléctrico e o potencial, tem-se para o campo eléctrico
e para o potencial
Recorde-se que se se considera uma única carga positiva, as linhas de força eléctricas são radiais e dirigidas para o exterior. Essas linhas de força são perpendiculares às superfícies equipotenciais, que são esféricas na equação ) e concêntricas com as cargas. Atendendo a () para dois raios e tal que temos e portanto as linhas de força dirigem-se para os potenciais decrescentes.
Considere-se agora o caso de duas cargas e . Enquanto estiverem muito afastadas uma da outra, produzem campos radiais, respetivamente divergindo e convergindo. Se forem colocadas suficientemente próximas, as linhas de força vão sofrer a influência de ambas as cargas. Nesse caso, apenas uma única linha de força é linear, dirigida de para . Todas as outras, que na vizinhança próxima de cada carga são radiais, acabam por infletir, dirigindo-se de para . A figura das linhas de força tem simetria de revolução em torno do eixo que contém e e é esquematicamente a indicada na figura ao lado. Se o valor absoluto das duas cargas for o mesmo a figura é simétrica em relação ao plano mediatriz das cargas e \footnote{Para mais exemplos ver https://phet.colorado.edu/en/simulations/charges-and-fields}.
Se se calcular a diferença de potencial entre dois pontos infinitamente próximos e devida a uma carga à distância e respetivamente, a variação elementar do potencial será:
No caso particular deser homogéneo (por exemplo no interior de um condensador plano) na região onde se situam os pontose afastados de uma distância obtém-se
Para se compreender o significado físico de imagine-se queé um ponto infinitamente afastado da região em que se faz sentir o campo eléctrico obtendo-se que permite a seguinte interpretação: \newline \newline \fbox {
%Se for a carga a energia necessária será\(W= q_2\cdot V$.
Energia electrostática
A energia associada a uma configuração de cargase à distância é dada por:
Recordando a definição do potencial criado porcargas eléctricas, podemos generalizar a equação () na seguinte forma:
Condutores eléctricos e dieléctricos. Condensador plano
Um material é um \emph{condutor eléctrico ideal} se as cargas eléctricas do mesmo sinal em excesso (que o carregam) são livres de se movimentarem no seu interior e à sua superfície. Quando pelo contrário isso não acontece, estamos perante um \emph{dieléctrico}.
Assim, se carregarmos um condutor com uma carga total(se significa que se retiram electrões ao condutor inicialmente neutro) essas cargas, todas do mesmo sinal, vão acomodar-se logo que se atinja o equilíbrio electrostático, em posições que são o mais afastadas possíveis umas das outras -- ou seja, na superfície exterior do condutor, formando uma ``folha de carga. Pode mostrar-se queno interior do condutor é nulo (enquanto que num dieléctrico\(\mathbf{E} \ne \mathbf{0}$), e que a superfície do condutor é uma \emph{equipotencial}: logo, as linhas de força eléctricas são-lhe perpendiculares. Quando um material é carregado, a velocidade com que essas cargas se transferem de todo o volume do condutor para a superfície depende da sua condutividade. Se se considerar um condutor carregado, com geometria plana (uma placa), a carga vai distribuir-se sobre a superfície (ver ilustração em baixo).
Ao colocar-se em frente uma placa idêntica, mas de carga simétrica, haverá uma redistribuição de carga que produz um campo eléctrico tal como ilustrado em baixo. Na região central, as linhas de força são paralelas entre si e o campo eléctrico é homogéneo. Nas extremidades as linhas de força emergem perpendicularmente à superfície mas encurvam, deixando de ser lineares. Esta geometria e distribuição de carga são características de um \emph{condensador plano}. A diferença de potencial entre as duas placas, afastadas de corresponde a ($V_+ \,–\, V_-) = E\cdot D\) poisé homogéneo (eq. ).\\
Pode mostrar-se quefica confinado à região entre as placas. Se o condensador fosse infinito (sem extremidades) teríamos três regiões, as duas exteriores ao condensador, onde o campo é nulo, e entre as placas do condensador (também designadas por armaduras), onde o campo seria homogéneo.
Efeitos da corrente eléctrica estacionária criada por uma espira
A passagem da \emph{corrente eléctrica estacionária} (i.e. cuja intensidade não varia no tempo) por um condutor cria um campo magnético além de produzir calor por efeito de Joule. As \emph{linhas de força magnética} produzidas por um fio condutor linear são circulares e concêntricas com o condutor (Fig. ). O módulo denum ponto a uma distânciado fio (medida na perpendicular ao fio) é
em que\(\mu_0 = 4 \pi× 10^{−7}\)H/m é a \emph{permeabilidade magnética} do vazio. \begin{figure}[t]
\centering \includegraphics[width=0.5\textwidth]{fig-fio} \caption{Campo magnético produzido por um fio onde passa corrente.} \label{fig:condutor} \end{figure}
No caso de uma espira\footnote{Termo que designa um circuito eléctrico fechado} circular, é criado um campo magnético cujas linhas de força são curvas fora do seu eixo e lineares apenas ao longo do eixo (Fig. ). Pode provar-se que o campo magnético criado por uma espira de raio percorrida por uma corrente de intensidade tem linhas de força fechadas\footnote{Mesmo aquelas que só \emph{fecham} no infinito}, ao contrário das linhas de força eléctricas. Isto coloca em evidência quenos pontos do plano da espira, mas exteriores a esta, é antiparalelo ano eixo da espira (ver figura). O módulo denum ponto do eixo é dado por
\begin{figure}[h] \centering
\includegraphics[width=0.5\textwidth]{fig-espira.pdf} \caption{Campo magnético produzido por uma espira circular onde passa corrente.} \label{fig:espira1} \end{figure}
Força de Lorentz
Uma carga q animada de uma velocidadenuma região em que existe um campo de induçãoe um campo eléctricofica submetida a uma força de Lorentz\footnote{Se a força for apenas de origem magnética, pode chamar-se também de \emph{Laplace}}dada por:
A força de Lorentz resulta da soma vectorial de uma componente eléctrica e uma componente magnética, que verificam as seguintes propriedades:
\begin{figure}[t]
\centering
\includegraphics[width=0.4\textwidth]{./Lorentz1.png} \caption{Trajectória circular para uma carga positivacom velocidadena presença de um campo magnéticoperpendicular. \label{fig:lorentz1}} \end{figure}
\begin{figure}[h]
\centering
\includegraphics[width=0.5\textwidth]{./Lorentz2.png} \caption{ Carga positivacom velocidade na presença de um campo magnéticoe um campo eléctrico\(\mathbf{E}$. Os três vectores são mutuamente perpendiculares e estão orientados de modo que as forças têm sentidos opostos. \label{fig:lorentz2}} \end{figure}
Um caso particularmente interessante da força de Lorentz verifica-se quando a velocidade da carga é perpendicular tanto ao campo eléctrico como ao magnético. Nesse caso, as duas forças têm a mesma direcção. Adotando uma configuração como a representada na Fig. , as forças eléctrica e magnética têm sentidos opostos e podem compensar-se, anulando-se, o que permite que a carga mantenha uma trajectória rectilínea.
Nesta repetição da experiência de Thomson iremos utilizar estes dois princípios para determinar a razão\(q/m$. Num primeiro conjunto de medidas, iremos determinar o raio da trajectória de um feixe de raios catódicos na presença de um campo magnético. No segundo conjunto de medidas iremos equilibrar as forças de um campo magnético e um eléctrico de modo a que o feixe tenha uma forma aproximadamente rectilínea.
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Figuras dos aparelhos da montagem experimental
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Procedimento Experimental
Material
- Ampola (tubo) de raios catódicos (TRC), modelo TEL 525.
- Fonte de alimentação do TRC, que inclui alimentação de alta tensão contínua (até 5000 V) aplicada aos eléctrodos (cátodo e ânodo) do TRC e alimentação de baixa tensão (6.3 V AC) para o filamento do TRC.
- Par de bobinas que envolvem a parte esférica do TRC na configuração de Helmholtz (para criar um campo magnético aproximadamente homogéneo na região central entre as bobinas, de raio médio e afastadas deuma da outra).
- Fonte de alimentação de corrente \textbf{contínua} (em modo DC) para as bobinas.
- Multímetro (como amperímetro) a instalar em \textbf{série} no circuito das bobinas.
O tubo TRC tem um filamento alimentado por 6.3 V (em modo AC). Este filamento emite electrões por efeito termiónico. Entre o ânodo e o cátodo do tubo estabelecem-se diferenças de potencial. Os electrões são acelerados entre o cátodo e o ânodo e a sua velocidade à saída do ânodo é função de\(U_a$.
Ao entrarem na parte esférica do tubo, os electrões podem ser deflectidos por \emph{campos magnéticos} provocados por correntes que percorrem as bobinas de Helmholtz e/ou por \emph{campos eléctricos} devidos à aplicação de tensão entre duas placas paralelas ligadas aos pontos 1 e 2 do diagrama (Fig. ).
O campo de indução magnéticadevido às bobinas de Helmholtz é aproximadamente uniforme na região central entre as bobinas, e para uma correnteé dado por\footnote{No sistema SI, a unidade de campo magnético é o Tesla (T), sendo 1\,T=1\,Weber/m$^{2}\).}: \begin{align} \label{eq:helmotz} n &= 320\textrm{ espiras} \nonumber \\ B = \left(\frac{4}{5}\right)^{3/2} \cdot \frac{\mu_0 n I}{r} = \frac{32 \pi n }{5 \sqrt{5}} \cdot \frac{I}{r} \cdot 10^{-7}\textrm{ Weber/m}^{2}
\qquad r &= 0.068\textrm{ m} \\
r &= d/2 \nonumber \end{align}
Determinação de por deflexão magnética
Trajectórias de partículas carregadas sujeitas a um campo magnético constante
Quando se aplica uma tensãoentre o ânodo e o cátodo (sem aplicar tensão entre os pontos 1 e 2 representados na Fig. ), pode admitir-se que a velocidade finaldos electrões ao abandonarem o ânodo é dada pela seguinte expressão
Os electrões entram, com velocidade horizontal, na parte esférica do tubo, onde são deflectidos pelo campo magnético(com verificando-se:
As trajectórias dos electrões podem ser visualizadas numa escala graduada feita de material fluorescente. A origem do reticulado está situada aproximadamente no início da zona sujeita ao campo . Combinando () e () obtém-se uma expressão para a relação\(q/m$: \begin{equation} \label{eq:encin3}
\frac{q}{m} = \frac{2\, U_a}{B^2\,R^2}
\end{equation} em que: \begin{description} \item[$U_a$] – impõe-se e mede-se diretamente no voltímetro da fonte de tensão. \item[$B$] – calcula-se, para uma dada corrente\(I\) a partir da expressão (\ref{eq:helmotz}). \item[$R$] – determina-se por leitura no écran fluorescente, das coordenadas de posição\(y\)(horizontal) e\(z\)(vertical) de pontos do feixe. Por construção do tubo verifica-se: \begin{equation} \label{eq:eR}
R = \frac{y^2 + z^2}{2 \, z}
\end{equation} \end{description}
Modo de proceder
Determinação de por deflexão magnética e eléctrica quase compensada
Situação de equilíbrio entre as interacções eléctrica e magnética
Se, na força de Lorentz, os dois termos se equilibrarem -- ou seja, se as forças electrostática e magnética forem de igual módulo e de sentidos opostos -- a carganão é desviada da sua trajectória. No nosso caso, em que, a condição de equilíbrio é dada por: \begin{equation} \label{eq:equil1}
|\vec{E}| = v\, |\vec{B}|
\end{equation}
Montagem a efectuar
Aproveitando a montagem já efectuada no ponto anterior, ligue agora os terminais 1 e 2 (Fig. ) à fonte de alta tensão que gera a tensão produzindo assim na região do écran fluorescente um campo eléctrico. Fazendo com que as bobinas sejam percorridas por uma corrente com intensidade e ``sentido convenientes, podemos obter uma força de origem magnética anti-paralela à provocada pelo campo\(\vec{E}$. Deste modo, a trajectória visualizada no écran será aproximadamente retilínea, sendo a condição de equilíbrio dada por:
\begin{equation} \label{eq:equil2}
|\vec{E}| = v\, |\vec{B}| = \frac{U_a}{d}
\end{equation} ondeé a distância entre as placas do écran fluorescente ea tensão entre as mesmas, que é como se disse igual à tensão de aceleração.
A equação () permite-nos calcular a velocidade dos electrões, uma vez que podemos conhecer os valores de todas as outras variáveis aí intervenientes. O conhecimento depermite-nos calculartendo em conta que, segundo (), deverá ser:
Ou finalmente, por combinação com ():