Espectroscopia e Efeito Fotoeléctrico
Riscas espectrais e medição da constante de Planck
Objectivos do trabalho
Pretende-se com este trabalho investigar e fazer uso de várias propriedades da óptica ondulatória, nomeadamente da separação angular das riscas de emissão de lâmpadas espectrais. Utilizando um goniómetro, iremos proceder à medição dos ângulos de refracção de um prisma e de difracção de uma rede, em função do comprimento de onda. A separação das riscas espectrais será também usada para verificar o efeito fotoeléctrico e obter uma medição da constante de Planck.
Como objetivo associado, pretende-se tomar conhecimento e aprender a manusear e a realizar medidas correctamente com um instrumento óptico de precisão, o goniómetro. Este instrumento permite medir ângulos de desvio, por reflexão ou refracção de feixes de raios paralelos, com uma resolução inferior a um minuto de grau.
Conceitos fundamentais
Desvio da luz por um prisma
Em óptica designa-se por prisma um sólido transparente em forma de prisma triangular, homogéneo e isotrópico, caracterizado pelo ângulo do vértice e pelo índice de refração . Quando colocado no percurso de um feixe luminoso incidente, o prisma produz um desvio angular no feixe emergente que depende do ângulo de incidência e do comprimento de onda (Fig. 1). Na região da luz visível, verifica-se que os comprimentos de onda mais curtos são mais desviados, ou seja, a luz violeta é mais desviada que a luz vermelha.
A Fig. 2 mostra este processo em maior detalhe. Um raio luminoso (traço vermelho contínuo) incide na face esquerda do prisma segundo um ângulo (em relação à normal à superfície) e é refractado internamente segundo um ângulo . Após se propagar dentro do prisma, o raio incide na face direita segundo um ângulo e é refractado para o exterior segundo um ângulo .
À diferença entre a direcção original e a desviada chamamos desvio angular . |
Pode provar-se que a função apresenta um ponto estacionário (i.e., derivada nula) que é um mínimo se . Mostra-se também que, nessa situação, as direções dos dois feixes são igualmente inclinadas em relação às faces do prisma, i.e. o ângulo de incidência é igual ao ângulo de transmissão emergente . Nesse caso, o índice de refração, , pode ser calculado simplesmente através da expressão seguinte:
em que e são o ângulo do vértice do prisma e o ângulo de desvio mínimo referido, respectivamente. Uma vez que o índice de refracção depende do comprimento de onda , podemos concluir que também o valor de vai depender deste parâmetro: diferentes cores vão apresentar diferentes desvios mínimos. Este princípio permite, através da medição do desvio mínimo para vários comprimentos de onda, determinar por ajuste a variação do índice de refracção do material do prisma.
Rede de difracção
Uma rede de difracção é um componente óptico com uma estrutura microscópica periódica – por exemplo, pode ser composto por fendas paralelas (linhas) com espaçamentos da ordem do micrómetro. Caracteriza-se a rede pelo número de linhas por mm, que é assim da ordem de várias centenas, ou mesmo superior. Tal como o prisma, a rede tem a propriedade de desviar a luz incidente em função do ângulo de incidência e do comprimento de onda , só que duma forma muito mais apreciável. Um raio de luz de c.d.o. que incida com um ângulo (relativamente à normal) numa rede de difracção com linhas/mm é difractado segundo um ângulo , de acordo com
em que é a ordem de difracção. A Fig. 3 ilustra a difracção para o caso em que o ângulo de incidência é nulo, isto é, o feixe incide segundo a normal à superfície. O feixe central, não desviado, é considerado como , enquanto que à esquerda e direita surgem simetricamente as ordens , etc., cada vez menos intensas.
Goniómetro de Babinet
O goniómetro é um instrumento que permite medir ângulos com grande precisão, e muito utilizado em óptica. O goniómetro de Babinet tem uma base central quase cilíndrica com uma plataforma que roda em torno do eixo vertical daquela, na qual é colocado o elemento dispersor da luz (prisma ou a rede de difracção) (Fig. 4).
O goniómetro vem equipado com dois elementos ópticos: um colimador e uma luneta. Ambos estão montados radialmente, o colimador fixo e a luneta podendo rodar em torno do eixo da base (Fig. 5). As posições angulares da plataforma (e, portanto, do prisma ou da rede) e da luneta podem ser lidas num limbo graduado por intermédio de nónios solidários, respetivamente com a plataforma e a luneta. Existem dois parafusos micrométricos, cada um associado a cada um dos nónios, que permitem regular e fazer leituras das posições angulares, com resolução de (meio minuto de grau).
O ‘’colimador’’ é constituído por dois tubos cilíndricos concêntricos que se podem deslocar axialmente. Um deles possui uma fenda rectilínea, de largura variável por um parafuso, e que deve ser colocada na vertical (pode utilizar a mira da ocular depois de regulada) e encostada à fonte luminosa. O outro tubo tem no extremo oposto (virado para a plataforma) uma lente convergente, . O objectivo deste conjunto é produzir um feixe de raios paralelos na região da plataforma onde se coloca o prisma, rede, ou espelho. A fenda, se for relativamente estreita, vai funcionar como objecto linear e dar origem às riscas observadas.
A luneta é constituída por dois elementos ópticos, uma lente convergente e uma ocular munida de retículo (dois fios cruzados perpendicularmente). A primeira lente produz no seu plano focal a imagem intermédia da fenda, que é projectada no plano do retículo e ampliada pela ocular. A ocular é regulada pelo observador, de modo a ver uma imagem focada da fenda.
Leitura de valores no goniómetro
O goniómetro tem uma escala central, fixa e solidária com a base, com valores entre 0 e 360. Entre cada grau há três divisões, ou seja, a escala está dividida em intervalos de 1/3 grau = 20 minutos de arco (20') (Fig. 6). Existem duas escalas rotativas com um nónio: a de cima está unida à plataforma e permite ler o ângulo de incidência, a de baixo está ligada à luneta e permite ler o ângulo de desvio. Estes ângulos são relativos, por exemplo, à direcção do feixe de luz sem sofrer desvio. Ambas as escalas móveis estão equipadas com nónios de 40 divisões, aumentando assim a precisão da leitura para 20'/40=0.5', ou seja, 30 segundos de arco. O uso desta precisão é facultativo nas medições feitas com a rede (dada a amplitude dos ângulos de desvio) mas é obrigatório para medições com o prisma.
O procedimento para ler um dado valor usando o(s) nónio(s) é semelhante ao usado na craveira (Fig. 7). Começa-se por ler na escala fixa, com a maior precisão possível, o valor imediatamente à esquerda da linha do zero do nónio. A esse valor acrescenta-se o valor indicado pela divisão cuja linha coincide em ambas as escalas. Dado o tamanho diminuto destas divisões, é aconselhável fazer a leitura com o auxílio de uma lupa, ou registar a leitura através de fotografia digital (Fig. 8).
Por outro lado, o valor que é lido nas duas escalas do goniómetro – escala da plataforma e escala da luneta – não coincide necessariamente com o ângulo de incidência ou o ângulo de desvio, respectivamente, o que pode levar a confusão no registo dos valores. A Fig. ilustra esta situação para o caso da refracção no prisma. Por uma questão de consistência, iremos utilizar a seguinte convenção:
- Os ângulos de incidência e transmissão nos componentes ópticos, relativamente às suas superfícies, são designados e respectivamente
- Os ângulos lidos na escala da plataforma e na escala da luneta são designados e respectivamente;
- O ângulo lido na escala da luneta na ausência de componente óptico é ; nessa configuração a luneta encontra-se perfeitamente alinhada com o colimador
De novo considerando a Fig. , para o caso do prisma pode deduzir-se a seguinte relação entre , e o ângulo de desvio:
Desde a redefinição do Sistema Internacional de Unidades de 2019, a constante é definida como tendo um valor exacto: ou, em unidades de electrão-volt, . No âmbito do SI, a constante de Planck é usada na definição do quilograma.
Figuras dos aparelhos da montagem experimental
Procedimento experimental
=Trabalho preparatório
- Preencha os objectivos do trabalho que irá realizar na sessão de laboratório.
- Preencha o quadro com as equações necessárias para o cálculo das grandezas, bem como as suas incertezas.
Goniómetro
Material utilizado
- goniómetro
- fonte de luz incandescente (candeeiro)
- luz espectral de Hg ou He
- prisma
- rede de difração
- nível graduado
\textbf{Atenção:} Este trabalho envolve o uso de lâmpadas espectrais. Estas lâmpadas são uma fonte de radiação ultravioleta, que tem efeitos nocivos nos olhos e na pele. Apesar das lâmpadas existentes no laboratório terem uma potência de emissão relativamente baixa, deve-se evitar a exposição desnecessária ou a observação prolongada da sua luz.
Alinhamento do goniómetro
- Disponha o goniómetro em frente a uma fonte luminosa de luz incandescente. Entretanto, ligue também a fonte de luz espectral, de modo a permitir que se estabilize termicamente (10 a 15 minutos).
- Comece por regular a ocular da luneta. Para isso, deve ver nitidamente com um olho os fios do retículo e simultaneamente com o outro olho ver um objecto no exterior da luneta, afastado a cerca de 30 cm.
- Para regular a objectiva, observe agora um objecto no “infinito” (no laboratório, escolha um objecto o mais afastado possível) actuando sobre o parafuso da luneta. Regule de modo a observar o objecto e o retículo, bem focado e sem paralaxe.
- Coloque a luneta alinhada de frente para o colimador e regule o parafuso deste, de modo a observar a fenda focada quando iluminada pela lâmpada espectral.
- Com o nível de bolha, verifique a horizontalidade do goniómetro e da plataforma.
- \underline{Muito importante -- antes de começar as medições:}
- Identifique as escalas dos ângulos usados para medir a orientação da plataforma e da luneta. Note que a escala de graus varia de a e depois recomeça, pelo que poderá ser necessário fazer a conversão adequada caso a gama de valores medidos contenha esta transição.
- Assegure-se de que compreende como estão relacionadas as duas escalas opostas e como funcionam os nónios. A leitura dos valores dos nónios é facilitada com o auxílio de uma lupa -- use uma das lentes convergentes.
Rede de difracção
A variação do desvio angular com o c.d.o. é significativa no caso da rede de difracção, pelo que para esta medição basta usar a escala principal (em graus) do goniómetro.
- Antes de colocar a rede, comece por alinhar a luneta com o colimador e registe o valor do ângulo lido na escala da luneta.
- Monte no centro da plataforma do goniómetro uma rede de difração de 600 linhas por milímetro, orientada com uma das faces de frente para o colimador, isto é, de modo a que o feixe incida o mais possível na perpendicular à superfície da rede.
- Substitua a lâmpada incandescente pela fonte de luz espectral. Observe os raios difractados de várias cores, em 1.ª e 2.ª ordem. Meça e registe o ângulo de transmissão de todas as riscas espectrais que conseguir observar, com a melhor precisão possível, à esquerda e à direita da ordem central .
- Identifique os diversos comprimentos de onda e compare com os valores tabelados para a lâmpada espectral que está a utilizar. No final, retire a rede de difracção.
Prisma
A variação do desvio angular com o c.d.o. é muito ténue no caso do prisma, pelo que para esta medição é essencial recorrer à escala principal e ao nónio do goniómetro.
- Antes de colocar o prisma, volte a alinhar a luneta com o colimador e registe o valor do ângulo lido na escala da luneta.
- Rode a plataforma de modo a obter na respectiva escala a leitura .
- Cuidadosamente, monte no centro da plataforma um prisma (de ângulo de vértice conhecido), orientado com uma das faces de frente para o colimador, isto é, de modo a que o feixe incida o mais possível na perpendicular à superfície do prisma.
- Rode agora o prisma de modo a obter uma configuração semelhante à da Fig. , prestando atenção à orientação correcta do vértice e da direcção da luz refractada, que deverá ser visível mesmo sem o auxílio da luneta.
- Na luneta, observe as várias cores refractadas. Se o instrumento estiver bem focado, deverá observar uma série de imagens coloridas da fenda (riscas verticais), uma por cada comprimento de onda. Escolha duas cores, bem afastadas.
- Para uma das cores, rode suavemente a plataforma até encontrar a configuração para o qual se regista o desvio mínimo. Nessa posição, centre no retículo a risca observada e registe o valor de (escala da plataforma), bem como o respectivo ângulo de transmissão (escala da luneta).
- Realize um conjunto de dez pares de leituras e cinco para ângulos de incidência superiores, preenchendo a tabela. Mais uma vez, note que para estas medições é essencial o uso do nónio em ambas as escalas.
- Repita os pontos 17 e 18 para a risca da outra cor.
- Para cada cor, elabore um gráfico dos ângulos de desvio em função de e anexe-os ao relatório. Realize um ajuste polinomial e verifique que tanto o ângulo de desvio mínimo como a curva obtida são diferentes para cada cor.
- Usando a Eq. (5.1) com , determine o valor do índice de refracção para os dois c.d.o. que utilizou.
Efeito fotoeléctrico
Parte I. Laboratório presencial
\textbf{Atenção:} este trabalho envolve o uso de lâmpadas espectrais. Estas lâmpadas são uma fonte de radiação ultravioleta, que tem efeitos nocivos nos olhos e na pele. Apesar das lâmpadas existentes no laboratório terem uma potência de emissão relativamente baixa, deve-se evitar a exposição desnecessária ou a observação prolongada da sua luz.
- Ligue a fonte da lâmpada de mercúrio e deixe estabilizar durante cerca de 10 minutos.
- Enquanto espera, teste as tensões de cada uma das duas pilhas do amplificador da célula fotovoltaica.
- Monte os componentes tal como indicado na Fig.~.
- Regule o conjunto de lente + rede de difracção de modo a obter as riscas de cor bem focadas na zona do detector. Alinhe a montagem da fenda para que a célula esteja bem iluminada e centrada na risca.
- O que observa depois da rede é uma ‘‘figura de difracção}.
%Observe as várias riscas, anote e interprete os ângulos de Difração e Ordem. Esta figura é simétrica (esquerda/direita) no que respeita às posições das riscas e das intensidades observadas? Quantas ordens de difracção consegue identificar?
- Para cada uma das riscas (cores) pressione o botão de RESET e depois registe o valor da tensão de paragem . Faça três medidas para cada risca. Note que para as riscas amarela e verde é necessário utilizar os respectivos filtros coloridos.
\begin{table}[!hbp] \begin{center} %\centering \begin{tabular}{|c|c|c|} \hline Cor & Freq. [THz] & \(\lambda\) [nm] \\ \hline Amarelo & 518.672 & 578 \\ Verde & 548.996 & 546.074\\ Azul & 687.858 & 435.835 \\ Violeta & 740.858 & 404.656\\ U.V. & 820.264 & 365.483 \\ \hline
\end{tabular}
\caption{Riscas observáveis do espectro da lâmpada de Hg. No material de apoio de LIFE pode encontrar informação sobre as principais riscas espectrais deste e de outros elementos.} \label{tab:Hg} \end{center} \end{table}
Determinação da recta de ajuste
\underline{Ajuste manual} -- Usando o quadriculado disponibilizado, faça o gráfico de em função da frequência . Escolha os eixos adequadamente e complete o gráfico (com título, unidades, escala, marcas, etc.). Deverá tentar aproveitar ao máximo a área útil da folha, de modo a minimizar as incertezas. Com uma régua, tente ajustar uma recta aos pontos experimentais e determine o seu declive, a abcissa na origem (a.o.) e a suas incertezas. Consulte o ‘‘Material de apoio} de LIFE para este procedimento.\\ \underline{Ajuste através de software} -- Faça o ajuste numérico com o auxílio de software adequado (‘‘Fitteia}, calculadora gráfica, Gnuplot, etc.)
Parte II. Laboratório remoto
O laboratório remoto ‘‘e-lab} permite obter o potencial de paragem para diferentes riscas e diferentes níveis de intensidade, permitindo ainda registar a variação da curva ao longo do tempo. Esta componente pode ser realizada a partir de um computador pessoal, não sendo necessário estar no laboratório.\\
- Para realizar a experiência remota, aceda à lista de experiências do ‘‘e-lab} em\\
\texttt{http://elab.ist.utl.pt/rec.web//}\\ e siga as instruções transmitidas no MOOC de LIFE.
- Para seguir o protocolo experimental, aceda a\\
\texttt{http://www.elab.tecnico.ulisboa.pt/wiki/index.php}\\ e seleccione a experiência "Determinação da Constante de Planck". Realize as medições e análises descritas na secção "Protocolo". \end{enumerate}